Quantcast
Channel: Não Dois, Não Um » histórias
Viewing all articles
Browse latest Browse all 6

Validation (Kurt Kuenne | 2007): o curta que eu queria ter feito

$
0
0

validation

Eu passei um bom tempo sem tolerância a romantismo. Qualquer postura feliz demais, sorridente demais, qualquer pessoa “alto astral” já ativava o radar new age aqui do menino pseudo-existencialista. Existe, porém, outro tipo de alegria que não vem dessa postura “O Segredo”, cujo mantra não é “Pense positivo” e que ignora totalmente “As 7 leis espirituais do sucesso”.

Essa outra alegria vem de uma espécie de tristeza, uma vontade de compartilhar não-sei-o-quê com o outro, uma certeza de que ele também tem esse mesmo coração. Às vezes ela pode ser romantizada, virar musical estilo Disney, mas por pura brincadeira – sua base é outra.

Escrevi um pouco sobre isso no texto sobre espontaneidade e em outro que finalizei com o vídeo das gargalhadas no metrô. Sorrir – verdadeiramente sorrir, solto, aberto, olhando nos olhos do outro – foi algo que comecei a aprender apenas há uns 4 anos, curiosamente junto com a criação do Não2Não1.

Com o curta de Kurt Kuenne, em vez de analisar o conteúdo (daria pra soltar mil comentários) como fiz com J’Attendrai Le Suivant, decidi apenas listar os eventos anteriores ao link do YouTube que me chegou hoje por email:

• Ontem rolou tarde de meditação no CEBB. Como sempre, eu esperei que ninguém fosse, assim poderia dormir um pouco mais depois do almoço, meditar quase nada e voltar logo pra casa. Chegaram duas pessoas, brotou motivação e ficamos sentados em silêncio contra a parede até às 17h.

nha-benta• Saí especialmente feliz, brilho nos olhos, peito wide open. Lembrei que tinha comprado uma caixa de Nhá Benta (com 5 de sabores diferentes) e pensei em distribuir no metrô. No caminho, encontro uma mulher nitidamente desesperada que tinha acabado de trancar o carro com a chave e a bolsa dentro. “Posso usar seu celular?”. Ela ligou para o filho ir resgatá-la e depois começou a falar sem parar comigo (“Vim só comprar uma lente, uma só lente, devia ter parado no estacionamento do Shopping…”). Tenho certeza que a Nhá Benta que ela pegou não ajudou em nada, mas eu vi o sorriso no meio daquele rosto suado e surpreso.

• No metrô, de novo a mesma história: “Mas por quê?”. Vender tudo bem, mas dar exige uma explicação. Ser autocentrado OK, ser generoso não. Toda generosidade esconde um interesse egoísta por trás, não é verdade? Pois respondi: “Você pega, amanhã eu escrevo no meu blog, um monte de gente lê e me acha o máximo. É isso. Ganho muito mais do que gastei com essa caixa!”. Mentira. Eu respondi: “Se eu estivesse pedindo dinheiro em troca, você não perguntaria isso, não é mesmo?”. E falei como sempre para buscar por “bombons no metrô” no Google, assim aumento as visitas por aqui, não é uma ótima estratégia?

• Enquanto eu mais tentava convencer as pessoas do que distribuía (afinal eram só 4 Nhá Bentas para um vagão inteiro), uma criança me seguia com os olhos sem entender nada.

• Uma senhora bem velhinha me ouviu falar com um casal e resolveu pegar uma: “Vou ajudar o menino”. Antes de sair do metrô, quando eu já estava sentado, ela disse: “Deus te abençoe”. ;-)

• Fui pro show do Brad Mehldau no SESC Santana. Na volta, uma menina pediu para andar ao meu lado até o metrô (o caminho é escuro e deserto). Enquanto ela contava sua vida, pensei em outros modos de estabelecer relações com estranhos. Dar bombons, atravessar a rua de mãos dadas, pedir uma história ou um sonho, beijar no escuro da festa… O que mais é possível de se fazer segundos depois de encontrar alguém pela primeira vez?

• Hoje meu ex-chefe, grande amigo, me envia um link dizendo que achou o vídeo a minha cara. Com receio de ser algo no estilo “PowerPoint motivacional”, abro e me deparo com uma obra-prima, da trilha (composta pelo próprio diretor que é músico) à atuação, da fotografia ao roteiro. O estilo caricatural, exagerado, romantizado, quase surreal, próprio de uma fábula, é perfeito para evidenciar muito o que venho dizendo por aqui e tentando incorporar em minha própria vida.

Assistam comigo (se não souber inglês, aqui está a versão legendada):


Validation (Kurt Kuenne | 2007)

P.S.: Para os aprendizes de Don Juan que desejam conquistar uma ou mais mulheres, acho que o filme explicita ainda mais a abordagem que explorei no texto sobre o filme Caos Calmo. Em vez de focar na mulher, construa relações positivas (lúdicas, profundas, transparentes) em todas as direções. Ela eventualmente vai querer participar da brincadeira, não se preocupe.

P.S. 2: E aí? Alguém mais vai fazer o lance da Nhá Benta no metrô ou nas ruas? Comente aqui se fizer.

P.S. 3: O próximo post será sobre outro curta do cara. Aproveito para recomendar um terceiro, esse longa, que todos dizem ser genial (já estou baixando): Dear Zachary.


Viewing all articles
Browse latest Browse all 6